quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Resumo do Livro Carta a um jovem terapeuta

Referência:

CALLIGARIS. Contardo. Cartas a um jovem terapeuta. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008

Opinião Própria

O livro é escrito para quem pretende iniciar ou iniciou recentemente a carreira de terapeutas. O autor se baseia na sua experiência de vida, morou em vários países, e na sua experiência como terapeuta. O dialogo com o leitor é informal, procura mostrar realmente o que importa, sem mascaras. Apesar de informal, coloca claramente a importância de uma formação teórica. Leitura obrigatória para aqueles que pretendem trilhar este caminho. Se após a leitura responder sinceramente que pode seguir, então, continue.

Resumo

Capitulo 1 – Vocação Profissional

Neste capítulo, o autor esclarece sobre requisitos importantes para ser um psicoterapia. É importante conhecer estes requisitos antes de escolher uma profissão que exigirá tanto tempo.

Para ser um bom terapeuta é útil ter traços de caráter que dificilmente serão adquiridos na formação. Se for importante ter uma gratidão elevada dos pacientes então não seja um terapeuta, por dois motivos:

1 – Dificilmente encontrará a gratidão que um médico encontra;

2 – Depois que o problema passa, o terapeuta é esquecido.

A confiança que o paciente deposita no saber do profissional pode ser excessiva, mas é bom que seja assim, esta confiança auxilia no processo de cura. Mas esta confiança não deve se transformar em uma eterna admiração, seria substituir um mal por outro, perpetuando a terapia.

Traços do caráter do terapeuta

1 – Gosto pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por diferentes que sejam de você.

2 – Curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo de preconceito

Se for um limite que não consegue superar, encaminhe para outro terapeuta. Se tiver opiniões morais prontas é melhor não seguir a profissão

3 – Experiências de vida

O terapeuta não precisa ser um modelo da normalidade. A fantasia e os desejos só encontram seu sentido nas vidas singulares

4 – Uma dose de sofrimento psíquico

Quem trabalha com as motivações conscientes ou inconscientes de seus pacientes deve fazer sua terapia, não com fins didáticos, mas para se trabalhar também. Além disto, poderão ocorrer casos em que o paciente não melhora e você duvidará de sua prática, mas saberá que a prática funciona, pois já curou pelo menos um: si próprio.

Capitulo 2 – 4 Bilhetes

Bilhete 1

Poderia existir algum “desvio” para impedir uma pessoa de se tornar um psicoterapeuta, ser um travesti, por exemplo ? A escolha deve ser por confiança, assim haverá os pacientes que se sentirão bem e os que não.

Bilhete 2 E o pedófilo ? A pedofilia é uma fantasia de domínio e domínio do saber. Se o terapeuta encontrar seu gozo na suposta supremacia de seu saber, não poderá analisar de forma isenta.

Bilhete 3 Qual o limite ? O autor não consegue acompanhar quem consegue agir em grandes horrores sem que sua subjetividade esteja envolvida. Aqueles que dizem: “foram as ordens”, “isso é o que manda nossa fé”.

Bihete 4 Será que devemos influenciar os pacientes ? A escolha de uma direção não deve ser decidida por uma norma ou por um saber. Espera-se que o terapeuta empurre a pessoa na direção de seu desejo. Por isto, que uma terapia demora, porque antes de empurrar é preciso que o desejo se manifeste

Capítulo 3 – 1o Paciente

Neste capítulo, o autor fala da expectativa pelo primeiro paciente, de como tentou disfarçar o apartamento para dá a impressão de ser um terapeuta experiente. Nada disto é preciso, as vezes, o paciente busca exatamente a inexperiência do terapeuta. O importante é ser você mesmo e principalmente ter interesse no paciente como se fosse o primeiro. Seu primeiro paciente foi indicado por uma amiga que admirava ele por ter outros interesse além da psicanálise. “Temo o psicoterapeuta de um livro só”.

Capitulo 4 – Amores terapêuticos

Neste capítulo é tratada a relação que pode surgir entre paciente e terapeuta. Primeiro, como dito no capítulo 1, a transferência é importante na relação de cura. Se ocorre relação pessoal, ela se dará por um dos seguintes motivos:

1 – Terapeuta se achar poderoso – O terapeuta não analisa, manda

2 – Ego – Se achar irresistível. Quando o paciente não dá mais importância ele se separa e irá procurar outro que o admire (é recorrente)

3 – Amor verdadeiro

Capitulo 5 – Formação

O terapeuta deve ter formação psi ou não ? As vantagens de quem tem a formação psi é o conhecimento de várias abordagens (pluraridade), o conhecimento de padrões internacionais (CID / DSM) e estágios. A linha a ser seguida não é uma ideologia, não é preciso ser fiel.

Capitulo 6 – Curar ou não curar

Não deve haver pressa na terapia. Não se deve suprimir os sintomas antes que a doença se manifeste. Cura é definida como o restabelecimento a normalidade funcional, ou, levar o sujeito de volta a seu estado anterior à doença. Psicanálise não tem noção preestabelecida de normalidade, mas um estado em que o sujeito se permite realizar suas potencialidades.

Psicoterapia é uma experiência que transforma, pode-se sair dela sem o sofrimento, mas ao custo de uma mudança.

A psicologia francesa dos anos 60 não era adepta da idéia de cura. Curar significava perder o potencial de revolta. Mas, o autor se interessa pela psicanálise por acreditar que ela tem a capacidade de transformar vidas e atenuar a dor

Capitulo 7 – O que fazer para ter mais clientes

No início de sua carreira o autor ouviu que para ter mais cliente era necessário “fazer-se conhecer”. Na época, “fazer-se conhecer” significava ser conhecido dos colegas, pois imaginavam que os clientes só viriam indicados por outros colegas. Por isto, o objetivo era impressionar os colegas.

A questão do termino da análise também é tratada no capítulo, pois “o que nos faz sofrer é a relevância excessiva que atribuímos à nossa presença no mundo. Insistimos sempre em ser iguais a nós mesmos”. No final da análise seríamos capazes de largar os sintomas que nos devastam e que nos amamos a tal ponto que ao conseguimos desistir deles. “O momento em que eu realizasse a experiência de que não sou nada seria o momento em que finalmente conseguiria ser alguma coisa ou mesmo alguém”. Alcançar este momento passou a ser o objetivo dos terapeutas e não tratar pessoas. Para o autor o importante para conseguir mais clientes é ter compromisso primeiro com as pessoas que confiam em você.

Capitulo 8 – Questões Práticas

A regra de que o paciente pode falar sobre tudo deve ser enunciada? depende do paciente e do sentimento do terapeuta. O importante é que “as palavras sempre levarão seus pacientes por terra imprevistas”. A autorização para o paciente falar, não obriga a falar do que nós queremos ouvir. “É possível se esconder de si mesmo usando a razão ou a poesia”.

Regras utilizadas por Freud

1 – Durante a análise não tomar decisões cruciais. Esta regra não é utilizada hoje por dois motivos:

- Às vezes o motivo da análise é exatamente o de tomar uma decisão

- A análise pode demorar muito

2 – Não falar da terapia com as pessoas próximas

- os amigos poderão achar que a pessoa irá mudar com eles

- pode gerar conflitos em casais que fazem terapias com terapeutas diferentes

O setting depende do paciente. Sentado, no divã, etc. O terapeuta não deve ser afoito e tomar cuidados com as perguntas iniciais. O autor faz duas:

1 – Eu (o terapeuta) posso ajudar ? Posso estabelecer a aliança terapêutica. Deve-se ser sincero, o autor, por exemplo, tem restrições a vozes que ele não gosta

2 – O que o paciente espera ? Procurar descobrir o que realmente a pessoa espera (sentir) e não o que disse que espera. Esta pergunta deve ser repetida ao longo da terapia e as mudanças da resposta analisada.

A duração da sessão poderá variar, mas não deve ser breve

Havia uma crença de que o paciente devia pagar do bolso, mas “as resistências não são vencidas pelo esforço de pagar”

A freqüência semanal depende da necessidade. O terapeuta deve estar disponível para emergências

Se necessário, um supervisor não deve custar mais do que cobra ao paciente e a função da supervisão não é didática é inspirar confiança.

Se você confia em si a ponto de autorizar-se a atender, continue.

Capítulo 9 – Conflitos Inúteis

Neste capítulo o autor fala do conflito existente entre a psicofarmacologia, a neurociência e a psicanálise. Este conflito é criado por interesse particular (indústria farmacêutica, insegurança profissional). Quem realmente conhece, sabe o espaço de cada um.

Capítulo 10 – Infância e Atualidades, causas internas e externas.

As pessoas não querem falar da infância e sim dos seus problemas atuais. Para a psicanálise o trauma não é causado no momento da ocorrência e sim quando se repete. Por exemplo o fato de um bebê ser abandonado pode não significar nada, mas se este mesmo bebê for abandonado pelo companheiro(a) este segundo evento poderá causar trauma, pois há uma ligação com o primeiro. Trauma seria um evento mais ou menos difícil que num segundo momento não consegue ser integrado na história do sujeito.

Reinterpretar o passado, descobrir (ou inventar) novos sentidos para o que aconteceu é quase sempre uma maneira de mudar nosso presente.

Porém, a sociedade atual está diferente “a modernidade define o sujeito não por sua herança e, mas por suas potencialidades”. Então, seriam duas as razões para evocar o passado: “para reinventar o sentido de uma história e para amenizar o peso do futuro, devolvendo assim, quem sabe, seu justo lugar ao presente de nossas vidas”.

Os pacientes se queixam que seus problemas têm causas externas. Há um conflito entre psicólogos sociais e clínicos quanto a isto. Para Fernando Pessoa “o mundo exterior é uma realidade interior”. Para Lacan “o inconsciente não é nem individual nem coletivo, ele é “o” coletivo mesmo. Deve ser considerado que existem transformações de personalidades que são ditadas pela situação coletiva na qual o sujeito se encontra. O terapeuta não deve desconsiderar o fator social.

Capítulo 11 – O que mais

Identificar-se com o terapeuta não pode ser o que se espera de uma terapia. Mas, se isto é inevitável o terapeuta deve assumir a responsabilidade ? a resposta é “ser você mesmo”, não agir para passar uma imagem agradável.

O conselho final é para o terapeuta ser humilde, não quanto aos efeitos de seu trabalho, mas humilde nas aceitação das condições impostas por seus pacientes


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Introdução

Um aspecto de fundamental importância é sabermos quais os usos da estatística e quais suas limitações. Segundo o ex-primeiro ministro britânico Benjamim Disraeli existem três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e mentiras estatísticas. A estatística pode ser utilizada para mascarar alguma informação, mas como ponto de partida e conceito essencial vamos considerar o seguinte:

A estatística não pode determinar as causas de um fenômeno, não é portanto, causal.

Vejamos um exemplo (retirado do livro Ciclo Vital de Helen Bee). Foi elaborado uma pesquisa, chegando-se aos seguintes resultados:

Grupos Etários

18-29

39-49

50 +

Sentir-se-iam bastante mal não conseguindo pagar as contas

51 %

57 %

80 %

Sentir-se-iam muito mal fazendo algo embaraçoso em público

26 %

25 %

50 %

Pense um pouco, o que você concluiria dos dados acima ?

Em um primeiro momento, podemos concluir que pessoas com mais de cinqüenta anos se preocupam mais em pagar suas contas. Mas, não sabemos como foi a formação destas pessoas. Poderíamos, portanto, chegar à outra conclusão: pessoas que nasceram a cinqüenta anos se preocupam mais em pagar suas contas. Só poderemos confrontar estes dados se fizermos novamente esta pesquisa quando as pessoas que hoje tem menos de cinqüenta anos chegarem a esta idade.

Se não podemos atribuir causa a um fenômeno usando a estatística, como poderemos faze-lo ?

A estatística pode fornecer pistas, e com estas pistas podemos realizar experimentos controlados e aí sim, chegarmos a explicação do fenômeno.

Mas, finalmente o que poderemos fazer com a estatística.

A análise estatística é geralmente feita sobre uma amostra, voltaremos a amostras no próximo tópico. Tendo-se uma amostra podemos realizar os seguintes procedimentos:

1 – Descrever somente a amostra, quais suas características sem preocupação com o todo (população). Este procedimento é tratado pela estatística descritiva

2 – A partir da análise da amostra, chegarmos a conclusões sobre o todo (população), ou seja, fazemos uma indução. Utilizamos para isto a inferência estatística.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Estatística e Psicologia. É possível ?

Companheiros desta jornada pelo mundo da Psicologia na Faculdade Castro Alves de Salvador. Pretendo publicar uma série de artigos abordando o tema Estatística e Psicologia por algumas razões:

1 – É preciso desmistificar a estatística para os psicólogos
2 – Pretendo escrever um livro sobre o tema e este será o laboratório

Durante o curso, percebi uma resistência da turma quanto ao aprendizado de estatística e por isto, creio que as possibilidades que esta ferramenta permite serão abandonadas pelos colegas sem ao menos conhece-la. A principal razão creio, é a dificuldade na compreensão de conceitos matemáticos, quem passou a vida escolar tendo dificuldade nesta disciplina não irá resolve-las em um semestre. Ainda mais, sendo matéria do primeiro semestre.

Atualmente existem uma série de softwares (o excel é um deles) que dão conta de todos os recursos matemáticos que o psicólogo precisa. Assim, não iremos nos alongar em formulas matemáticas de difícil entendimento, e ao meu ver, sem necessidade uma vez que os softwares estão aí para isto. Vamos nos concentrar então nos seguintes aspectos:

1 – Conceitos Estatísticos
2 – Uso de Software (Excel e SPSS)
3 – Exemplos de Aplicação

Se tudo correr bem chegaremos lá. Aguardo os comentários.

João